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Quanto mais se muda mais permanece a mesma coisa


Por Flávio Lauria

13/04/2024 18h18 — em
Espaço Crítico



Começo a acreditar que a política talvez seja a dimensão da vida nacional a que se pode aplicar, com mais propriedade, o ditado francês plus ça change, plus c'est la meme chose (quanto mais muda, mais é a mesma coisa).

Embora muito renovado em sua paisagem humana o Congresso Nacional que começou a trabalhar(?) há um ano e quatro meses, sem contar com as férias dos parlamentares - não é muito diferente do seu antecessor e de todos os outros que tivemos nos últimos 30 anos.

Compostos segundo as normas de uma legislação eleitoral e partidária superada, que os políticos, por razões óbvias, se recusam a alterar, Câmara e Senado entram em cena com vícios ancestrais: o fisiologismo, o corporativismo, o domínio de novos caciques e a volta de velhos. E com um acentuado grau de subserviência ao Poder Executivo, quando se tata de emendas.

Desta vez com uma agravante que pode tornar esta legislatura ainda pior que as anteriores: antes, o PT se destacava dos demais partidos aos quais se opunha pela disposição em parecer diferente deles, cobrando-lhes uma postura ética fora do padrão franciscano vigente no Legislativo - o tristemente célebre "é dando que se recebe". Agora os petistas assumiram o governo e, desde a confirmação da vitória de seu candidato no segundo turno da eleição presidencial, passaram a seguir o estilo que no passado condenavam.

Deixou, pois, de haver um contraponto claro ao deplorável comportamento habitual do Legislativo. Talvez seja o caso de dizer que agora, sim, todos os gatos são pardos.  Arthur Lira, como Presidente da Câmara, tem o prestígio de eminência parda. Mas o comportamento antiético do deputado, no âmbito parlamentar, já deixou de ser o único ou o principal motivo para se deplorar a sua condução e consequente desidratação.

As sucessivas incursões contra o ministro Padilha, com ofensas pessoais, mostram o seu desequilíbrio, faltando nove meses para deixar a Presidência da Câmara Federal. A sordidez e o cinismo dos detalhes do caso revelam como o político faz uso de sua influência para vingar-se de uma retirada de verbas de mais de cinco bilhões, onde se vê que, "quanto mais a coisa muda, mais ela fica igual", como diz a sabedoria popular.

O grande avanço que colheremos na seara da política, com a inauguração da esquerda no rol dos grupos que se alternam no poder no Brasil, virá no médio prazo, justamente pela desmistificação dessa esquerda.

Depois de uma experiência real, o eleitor brasileiro compreenderá, agora empiricamente, que os discursos servem para nos arrancar votos e para nada mais; que pessoas são pessoas, sejam quais forem as cores que vestem, e que não se pode confiar nelas para garantir os que pagam impostos contra os abusos e violências dos que têm o poder de cobrá-los. O poder fascina, entorta e corrompe, e o lado mais fraco perde sempre. Para que se abuse menos dele, é preciso garantir nossos direitos por meio de instituições.

E de instituições fortes o suficiente para que ninguém deixe de se submeter a elas. Basta, é a palavra de ordem. Execremos os maus políticos e os que pensam somente em si, e isso serve para o nível municipal, onde as eleições de avizinham, a menos de seis meses.

Escolhamos bem nossos prefeitos e vereadores, para que depois não venhamos a dizer em português claro, que quanto mais se muda, mais permanece a mesma coisa.

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